domingo, 27 de janeiro de 2013


Durante toda a minha vida fui ouvindo dizer que a gordura fazia mais mal que bem. O excesso é usual e conduz facilmente à obesidade, ao aumento de “mau” colesterol, à diabetes, dislipidemias e em casos mais graves, enfartes e AVC’s.

Quando comecei a frequentar o curso de Naturologia, entre muitas outras, a nutrição era uma das cadeiras deste curso. Tive aqui a oportunidade de aprender mais profundamente acerca deste tema. Segundo a Nutrição “clássica” ou ainda oficial, a razão pela qual as gorduras são perigosas é, em primeiro lugar pq possuem 9 calorias por grama, fornecendo muito mais energia que os hidratos de carbono e as proteínas; em segundo lugar, dentro do grupo das gorduras, há ainda a gordura saturada, presente nas carnes, lacticínios, frutas tropicais, etc. A gordura saturada é considerada uma das maiores, senão a maior, causa de aumento do mau colesterol, assim como da obesidade.

Fui então aprendendo que dentro do grupo das gorduras, havia as boas e as más. De um lado a gordura saturada raramente considerada interessante na nossa dieta, do outro lada a gordura polinsaturada vista como boa poe uma série de razões, no meio a gordura monoinsaturada que às vezes é considerada boa outras vezes nem tanto…

Felizmente a ciência não vive escrava de dogmas sociais e corporativos e a minha aprendizagem não parou com a finalização do meu tão proveitoso curso. Na minha experiência clínica fui observando muitos pacientes, muitos deles com aumento dos triglicéridos, colesterol  total e LDL. Embora tivessem cuidado com a alimentação, bebessem chás para o colesterol  e tomassem os medicamentos indicados , eles raramente conseguiam controlar este desequilíbrio.

Fui tentando encontrar respostas. Porque é que uma pessoa com uma dieta equilibrada, pobre em gorduras e rica em legumes pode ter excesso de colesterol e triglicéridos?

Primeiro há que entender o Colesterol, de onde vem, o que é e o que faz no nosso organismo. Em segundo lugar, estudar as gorduras e também qual a sua função no nosso organismo

 

·         O Colesterol

 

o   De onde vem?

O colesterol é essencialmente proveniente do nosso organismo, sendo produzido pelo fígado, cérebro, espinal medula e regra geral por todas as células do nosso organismo. Apenas uma pequena parte provém da alimentação. O colesterol, por via alimentar, provém de todos os alimentos de origem animal.

o   O que é?

É um álcool, considerado um esteroide, é uma substância fundamental no nosso corpo e encontra-se presente em todas as estruturas apresentando um papel fundamental no nosso metabolismo.

o   O que faz no nosso organismo?

 

·         Juntamente com a gordura saturada, confere rigidez e estabilidade às células. Quando a dieta é rica em poli-insaturados, o colesterol tende a substituir a gordura saturada na parede das células, o que muitas vezes está por detrás de uma baixa de colesterol sérico após a substituição na dieta de gordura saturada por poli-insaturada

·         É um percursor de corticoides (cortisol, aldosterona, progesterona e testosterona) essenciais no mecanismo de stress, fertilidade, metabolismo ósseo, etc

·         Intervém no metabolismo da Vit A, E, K e é percursor da Vit D

·         É parte integrante e fundamental da Bílis, líquido determinande para o processo de digestão e absorção

·         Antioxidante poderoso

·         Fundamental para o adequado funcionamento da serotonina no cérebro. Estudos afirmam a relação entre baixos níveis de colesterol e estados de depressão e insónia.

·         No crescimento do bébé é fundamental para o correcto desenvolvimento do cérebro e sistema nervoso

·         Participa na manutenção da flora intestinal, mantendo a saúde da parede do intestino

Como se pode concluir, o Colesterol é fundamental para uma boa saúde, intervindo em quase todos os processos do organismo. Apesar de todas estas vantagens, o Colesterol pode ser perigoso. Ele pode degradar-se quando submetido a altas temperaturas ou quando exposto ao oxigénio. Uma vez danificado torna-se perigoso, podendo atacar a parede das artérias. Geralmente este tipo de colesterol, assim como algumas gorduras poli-insaturadas encontram-se facilmente degradados em alimentos processados. No caso do colesterol ele é facilmente encontrado em más condições nos ovos em pó, leite em pó (que também é utilizado em leites com gordura reduzida por forma a “encorpar” a bebida), para além de carnes e outras gorduras ricas em colesterol que tenham sido fritas a altas temperaturas.

·         O bom e o mau colesterol

Na realidade o que chamamos de bom e mau colesterol não é Colesterol mas sim Lipoproteinas. As lipoproteínas são moléculas que transportam o Colesterol no sangue, assim como Triglicéridos. Existem 3 tipos de lipoproteínas:

o   HDL –Liproproteinas de Alta Densidade ou o conhecido “bom colesterol”

o   LDL – Lipoproteinas de Baixa Densidade mais conhecido como “mau colesterol”

o   VLDL – Lipoproteinas de Muito Baixa Densidade, pouco conhecidas e raramente faladas

Na realidade não há bom nem mau Colesterol, nem boas nem más Lipoproteinas. Cada Lipoproteina tem um papel específico assim como características próprias. Enquanto as HDL têm como função transportar o Colesterol das células para o Fígado para que este o degrade ou envie para  Vesicula Biliar, as LDL e VLDL têm como função transportar o colesterol do Fígado para as células do corpo. Na realidade todas desempenham um papel importante, umas destribuem o colesterol produzido por todo o corpo, enquando outras trazem-no de volta ao Figado para degradação ou para participar no processo digestivo através da Bilis. Outra diferença entre as Lipoproteinas é a sua densidade. Enquanto que as HDL são moléculas pequenas que circulam com facilidade nos pequenos vasos, as LDL e VLDL são moléculas maiores e são consideradas como causadoras de “entupimento” nos pequenos vasos. Quando o Colesterol sérico aumenta, os triglicéridos aumentam, o LDL aumenta, uma coisa é certa, há uma disfunção metabólica, mas dificilmente será de origem alimentar. Existem inúmeras causas para um aumento de Colesterol no sangue, desde infecções agudas e crónicas, doenças autoimunes, reumatismos crónicos, etc. O aumento de colesterol é apenas uma consequência de que algo corre mal e que deve ser investigado.

·         Gorduras

 

o   Saturada – Resistente a temperaturas elevadas, é também produzida pelo nosso organismo através de hidratos de carbono. Ex:. Ác. Palmítico, esteárico, láurico…

o   Mono-insaturada – Produzidos através da gordura saturada, existentes em diversas estruturas da natureza. Relativamente estáveis, podem ser utilizadas no cozimento. Ex:. Ác. Oleico, palmitoleico, erúcico…

o   Poli-insaturada –Não a conseguimos produzir, a nossa única fonte é a alimentar. São pouco estáveis, facilmente destruídos a elevadas temperaturas ou exposição solar. Não podem ser submetidos a elevadas temperaturas. Ex:. Ác. Linoleico, linolénico, araquidónico…

 

·         Classificação segundo o comprimento

o   Cadeias curtas – Contêm entre 4 a 6 átomos de carbono. Não necessitam de ser decompostos no processo digestivo e são absorvidos directamente pelo intestino. Têm propriedades antimicrobianas, virais e fúngicas. Ex:. Ác. Cáprico, butírico.

o   Cadeias médias – Contêm entre 8 a 12 átomos de carbono. São também absorvidos sem sofrerem digestão, sendo rapidamente absorvidos para produção de energia. Contribuem para o desenvolvimento do sistema imunitário, possuem propriedades antimicrobianas. Presentes geralmente em manteigas e óleos tropicais. Ex:. Ác. Láurico.

o   Cadeias longas – Contêm entre 14 e 18 carbonos. Podem ser saturados, mono-insaturados ou poli-insaturados. Ex:. Ác. Oleico, esteárico

§  Existem ainda os de cadeia muito longa (entre 20 a 24 átomos de carbono), tendem a ser altamente insaturados. Ex:. Ác. Araquidónico, eicosapentanóico.

 

·         A Digestão

 

                A digestão é um processo complexo que diz respeito a muita coisa, desde a sensação da fome, aos estímulos visual, olfactivo e sensitivo, até à mastigação e a sua continuação pelo estômago e instestinos, muito se passa neste processo. Irei focar-me no Intestino Delgado onde se dá grande parte da digestão das gorduras assim como a sua absorção. O pâncreas e a Vesicula Biliar são quem assume o processo de digestão no Intestino delgado, auxiliados pela flora intestinal que ajuda a digerir alguns nutrientes para os quais o nosso organismo não está preparado. O pâncreas produz então a Lipase, a enzima que vai continuar a digerir as gorduras (já parcialmente partidas na boca e no estômago), desta vez, e com a interveção da bílis, a lípase vai conseguir partir a gordura em partículas pequenas o suficiente para que possam ser absorvidas. A bílis consegue isolar as partículas de gordura potenciando a acção da lípase. A malabsorção pode estar ligada à deficiência de bílis e/ou secrecção de lípase assim como a inflamação do intestino delgado. O Colesterol que veio ajudar à digestão será, em grande parte absorvido, a sua eliminação pode ser tanto maior quanto maior for o consumo de fibra.

Depois de conhecer um pouco mais as gorduras e o colesterol, fiquei a perceber que o aumento de colesterol sérico, LDL e triglicéridos são essencialmente causas de outros distúrbios que devem ser analisados e não camuflados. Quanto à tendência de AVC ou Enfarte do miocárdio por excesso de Colesterol, hoje sabemos que os grandes factores de risco são a Hipertensão e a arteriosclerose. O grande indicador clínico de risco é a homocistéina e não o colesterol ou LDL.

Em relação ao bom e ao mau, creio não haver nem um nem outro. O que há, é a necessidade de estabelecer limites e equilíbrios no consumo das gorduras. No que as gorduras poli-insaturadas diz respeito, consumir sempre mais Omega 3 (sardinha, cavala, atum, bacalhau…) do que Omega 6 (oleaginosas) e sem nunca as submeter ao calor. A gordura mono-insaturada é muito importante, o ácido oleico (gordura principal do azeite e que serve de medida para o seu grau de acidez) por exemplo, é um excelente estimulante ao funcionamento da Vesicula Biliar e uma das gorduras mais presentes no nosso organismo. As gorduras saturadas são também importantes, sabendo-se hoje que em nada contribuem para o aumento de peso e que têm importantes acções no corpo, como é o caso do ácido Láurico que combate o desenvolvimento da Candida Albicans responsável por muitas infecções no tracto intestinal e vaginal.

 

Espero ter contribuído para  a desmistificação das gorduras, boa investigação…

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